terça-feira, 2 de dezembro de 2008

A Educacão para a Morte





“Numa análise psicológica profunda, o homem teme a morte, porque receia a vida” ensina o Espírito Joanna de Angelis! Jesus nos mostrou que, em verdade, ninguém morre e que sobrevivemos com o nosso corpo espiritual. Em inúmeras passagens dos Evangelhos surpreendemos o Mestre falando da vida espiritual, do além-túmulo, do reino dos céus, da vida futura. Na “dualidade” Elias/João Batista, na transfiguração do Tabor, no ressurgimento diante de Madalena, o Divino Amigo exemplificou a sobrevivência. Através de Lázaro, da filha de Jairo, do filho da viúva de Naim, do servo do centurião de Cafarnaum, fez ver que a morte não se dá antes do tempo. Afinal, “Deus não é Deus dos mortos, mas dos vivos, porque para Ele todos são vivos”, disse o Mestre. Nas “duas” personalidades, em uma, que foram Elias e João Batista, quando afirmou que “Elias já veio e os homens não o reconheceram e lhe trataram como proveram, referindo-se naturalmente a penalidade infringida ao precursor de Jesus (João, o Batista), ao lhe cortar a cabeça, e conta o evangelista Mateus que os discípulos entenderam que João Batista era o Elias reencarnado, ou de volta ao organismo biológico!
Mas, Kardec, foi quem melhor cuidou da Psicologia da Morte e da Educação para Morte. Inscreveu o Mestre de Lyon, nas páginas da Codificação, a partir da resposta dos Espíritos, que a morte, em ultima analise, simboliza apenas a “exaustão dos órgãos”, pois que está para o corpo assim como a vida eterna é a do Espírito. “Quando os elementos essenciais do funcionamento dos órgãos foram destruídos, ou profundamente alterados, o fluido vital não pode transmitir-lhes o movimento da vida, e o ser morre”, isso é, o ser biológico, o corpo de carne.
A obstrução dos condutos internos por onde passo o fluido vital, o comprometimento das vias que conduzem as energias essenciais, obstruindo-lhes a passagem, , provoca assim a morte e, com ela, a libertação definitiva do Espírito, que mantém todavia , sua individualidade, em decorrência do perispírito e as características de sua personalidade (todos hábitos e conhecimentos adquiridos), e prossegue na erraticidade em trânsito para a nova existência, enquanto aguarda o estado de pureza para viver desvinculado definitivamente da necessidade corpórea, ou seja, a conquista da proposta de Jesus: “ter vida em abundância.”
“A educação para a Morte, esclarece Herculano Pires, não é nenhuma forma de preparação religiosa para a conquista do Céu”, mas um processo educativo, uma preparação do homem para a libertação do seu condicionamento humano e sua reintegração na vida espiritual, com todas as conseqüências ditadas pela forma como se comportou na sua última existência corpórea! A morte é então uma bênção, necessária e indispensável para que o Espírito conquiste a sua liberdade, pelo menos entre uma e outra existência, até que tenha reunido em si as condições necessária a uma vida plena e em abundância, conforme as promessas do Cristo, “aquele que beber da água que eu der terá vida, mas, vida em abundância” . A vida liberta do jugo da carne, da prisão ou do cárcere físico que certamente no futuro remeterá o Espírito liberto as culminâncias cósmicas do amor de Deus! É o Espírito leve, sem o fardo pesado do corpo denso, decorrente da consciência livre, do céu interior da alma, da paz que só Jesus podia dar conforme assegurou: “A minha paz vos dou, mas não vo-la dou como dar o mundo”. Sim, a paz que o mestre dava não era a paz enganosa do mundo, a paz licenciosa, a paz das posses enganosas, das riqueza tangíveis mas fungíveis, dos poderes transitórios, das ilusões, dos equívocos e das coisas efêmeras, tão voláteis como a própria existência no arquipélago celular. A paz que só Jesus podia dá-la ele confirma na Oração do Horto das Oliveiras, naquele momento em que pensava o destino das ovelhas a ele confiada pelo autor divino! E em profunda oração ele assim se expressa conforme os registros do evangelista João capítulo 17 – versículos 1 a 26: Não peço que os tires do mundo, mas que os guardes do mal” Como diz o instrutor e escritor espírita Manuel Potasio: “A morte é, portanto, necessária e não pode ser desprezada, sob pena de manter-se o individuo chumbado às condições materiais da realidade existencial e enfrentar maiores dificuldades para reincorporar-se na vida natural, sob o império da lei de atração e sintonia, que atua em todos os planos da vida”, em todas as dimensões do Universo sob o olhar do Altíssimo!
A Doutrina Espírita, mostra-nos que a morte não é o fim da linha senão para a existência na matéria densa. Para o Espírito, ela aparece como uma passagem para a dimensão superior, uma estação de baldeação para outras experiências e uma transição necessária para novos aprendizados. A morte é um parto ao contrário, um mergulho no Invisível, na dimensão infinita, pois lá o Espírito que desencarna, é recebido por numerosos outros Espíritos, familiares, amigos, admiradores, que o espera, o abraça e recordam juntos reminiscências de outros mergulhos na carne em algum lugar do passado.
Aliás, passado, futuro, presente para Deus o eterno criador, orientador do Universo e da Vida, na dualidade espaço-tempo tudo é o eterno tempo do Espírito na sua marcha para o primado de si mesmo!
“A alma não se acha encerrada no corpo, qual pássaro numa gaiola. Irradia e se manifesta exteriormente, como a luz através de um globo de vidro, ou como o som em torno de um centro de sonoridade. Neste sentido se pode dizer que ela é exterior, sem que por isso constitua o envoltório do corpo. A alma tem dois invólucros. Um, sutil e leve: é o primeiro, ao qual chamas perispírito; outro, grosseiro, material e pesado, o corpo. A alma é o centro de todos os envoltórios, como o gérmen em um núcleo, já o temos dito” (Livro dos Espírito, Questão 141).
A morte é portanto instrumento de libertação da alma, que a assimila como um benefício concedido pela lei divina em favor de seu crescimento espiritual. Logo, não devemos ter medo da morte, já que “morremos todos os dias”, consoante nos lembram os Espíritos (Livro dos Espíritos, Questão 402).
Afinal, quantas vezes já passamos pela por ela, a morte? Quantas vezes já reencarnamos, vivemos, e desencarnamos?! Não podemos lembrar-nos dessas ocorrências, mas que elas sejam reais, quem poderá negar? Uma coisa, naturalmente é certa, porém: a morte já é nossa velha conhecida, nossa companheira de estrada, nossa amiga e benfeitora...
Mas, o temor da morte tem o seu valor, visto que ele “é um efeito da sabedoria da Providência e uma conseqüência do instinto de conservação comum a todos os viventes”, lembra-nos Allan Kardec no livro O Céu e o Inferno no capítulo II, pois o Espírito vindo do mundo espiritual para o mundo corpóreo, anseia por retornar ao seu habitat natural. Não houvera esse mecanismo inibidor, ele certamente seria tentado, em muitas situações, a abreviar a vida, bem precioso de não é senão usuário, como testemunhou o grande Apóstolo: “Mas, de ambos os lados estou em aperto, tendo desejo de partir, e estar em Cristo, porque isto é ainda muito melhor. Mas julgo mais necessário, por amor de vós, ficar na carne”. (Filipenses, 1: 23-24)


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