quarta-feira, 28 de janeiro de 2009

A NOVA ORDEM SE DELINEIA


Analisando as possibilidades de trabalho que a sociedade oferece ao homem, Allan Kardec argumenta: “Há um elemento que não se ponderou bastante, e sem o qual a ciência econômica não passa de teoria: a educação. Não a educação intelectual, mas a moral, e nem ainda a educação moral pelos livros, mas a que consiste na arte de formar caracteres, aquela que cria os hábitos, porque educação é conjunto de hábitos adquiridos.”

A educação visa fazer aflorar todas as experiências úteis do individuo, e atenuar todas as tendências viciosas que trouxe do passado. Educar é transformar; o que estar em pleno acordo com o “viver é recordar” de Platão, discípulo de Sócrates há quatrocentos anos antes de Cristo.

Em Pensamento e Vida, o Espírito Emanuel define o hábito como sendo “uma esteira de reflexos mentais acumulados, operando constante indução à rotina”. Esses reflexos mentais são adquiridos pelo Espírito nas suas múltiplas vivencias, envolvendo o passado e o presente e as conseqüências norteando-lhe o futuro. Em decorrência da quantidade de repetições que experimenta, acumulam-se os reflexos adquiridos e o Espírito então constrói sua própria rotina, que determina o seu caráter, constância e estabilidade relativas à maneira de agir e de reagir.

Quando analisamos a história do homem, contudo, observamos quão vagarosa é a marcha do Espírito. Seu progresso, no mais das vezes, é imperceptível, sutil. Suas imperfeições geralmente encobrem a glória de suas árduas conquistas, mormente naquilo que diz respeito à moral. Correm os séculos e o homem prossegue atrelado às ilusões do mundo, repetindo velhos erros, com roupagem nova.

Atento a essa lentidão humana, Jesus inaugurou a Era do Espírito para despertar nas criaturas a vontade de vencer o mal, entronizando o homem novo e destituindo o homem velho, num esforço de transformação profunda da personalidade, envolvendo todo o campo do comportamento, na esteira da exemplificação sublime, da manjedoura humilde à cruz ignominiosa. No contexto do seu magistério divinal, o Mestre asseverou: “Conhecereis a verdade e a verdade vos libertará”... Que verdade é essa, senão, em primeiro lugar, a verdade acerca de si mesmo?

Sem dúvida alguma, a Boa Nova ou o Evangelho de Jesus apresenta caráter libertador, mostrando qual deve ser a postura de cada um de nós perante o Pai, perante o próximo e perante si mesmo. E se o hábito já levava a criatura a um distanciamento natural da sua própria realidade existencial, Jesus veio chamar a atenção do homem para a sua natureza espiritual, revestindo dessa forma a sua pedagogia, quando disse: “ Vos sois o sal da terra... Vós sois a luz do mundo... resplandeça a vossa luz...” Noutro momento, lembrou: “ Não está escrito na vossa lei: Eu disse: Sois deuses? Se estávamos, portanto, habituados a nos vermos apenas como homens, cuja existência não passaria do balizamento berço-túmulo, cuja realidade começaria no pó e no pó mesmo terminaria, agora éramos postos a pensar diversamente.

Se a época do Cristo vigorava, como regra geral, a lei de talião: olho por olho, dente por dente. O 0fendido achava-se no direito de fazer justiça com as próprias mãos, fosse um indivíduo uma família ou uma coletividade, habito milenar difícil de desfazer. Imperava o ódio, que gerava, por sua vez, o ardente desejo de vingança. O indivíduo portava toda a agressividade do passado representado seu caráter animalesco, bárbaro, incivilizado, que procurava impor –se aos outros.

JESUS porém, com ternura e autoridade moral, diante das atitudes mais rotineiras das criaturas, ministrou belíssimos ensinamentos, com uma postura em que o rigor e o amor compunham a divina fórmula. Foi assim que começou a despertar nos homens a necessidade de amar a Deus, acima de tudo, apresentando-o como um Pai justo e misericordioso, que dispensa práticas exteriores com o fim de demonstrar-lhe gratidão. Nesse contexto, sepultou a figura do Deus mosaico, que se impunha pela tirania e impiedade, e fez brilhar a imagem do Pai soberanamente bom e perfeito, despido de qualquer traço de humanidade, mas de Espírito, Deus é Espírito e é em Espírito que ele quer ser adorado! Em seguida, ensinou-nos a nos amarmos uns aos outros, como ele mesmo nos amou, o que equivale ainda a amarmos ao nosso próximo como a nós mesmos. E, em outra ocasião, definiu a regra áurea, agora dentro da lei de amor: fazei aos outros o que gostaríeis que os outros vos fizessem. Além disso, pregando uma radical mudança de habito, advertiu-nos para não resistirmos ao mal, concluindo que era essencial mesmo amarmos os nossos inimigos, fazermos o bem aos que nos odeiam e orarmos pelos que nos maltratam e nos perseguem. Tamanha transformação, em verdade, não estava al alcance imediato das criaturas do seu tempo, mas permaneceria como uma porta aberta aos Espíritos amadurecidos do porvir.

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